sexta-feira, 22 de maio de 2009

Zé Rodrix
Por Roberto Vieira
Foto de Drika Bourquim - Divulgação blog Nova Blumenau


Caro João Carlos,

Zé Rodrix era um barato.

Queria uma casa no campo.

Onde ele pudesse plantar os amigos.

Os livros.

E nada mais.

Eu peguei o final do trio Rodrix, Sá e Guarabira.

Brinquei de tocar 'Fala'.

Música imortal do primeiro disco dos Secos & Molhados.

Música orquestrada pelo mago Zé Rodrix.

Rodrix que também toca o acordeom em 'Vira'.

Rodrix que já brilhara em 'Ponteio' com Edu Lobo.

Antes da gripe suína.

Rodrix já contaminava com o Joelho de Porco.

Um pouco de rebeldia naqueles anos de silêncio e samba enredo.

Brincadeira no vazio da MPB.

Rodrix que era do tempo.

Em que felicidade eram os amigos do peito.

E nada mais...

O mundo está ficando chato, muito chato, João Carlos.
(Rodrix: morreu hoje, na madrugada, aos 61 anos)

domingo, 17 de maio de 2009

Os (dez) mandos do boêmio
Por Gustavo Krause

1- O boêmio ama a noite sobre todas as coisas.

2- O boêmio ama o próximo mais do que a si próprio.

3- Para o boêmio, a mulher do próximo é a mais distante.

4- O boêmio não briga.

5- O boêmio transforma suas ex-namoradas em grandes e solidárias amigas.

6- O boêmio vive como gosta.

7- O boêmio está sempre liso, deixa pendura, mas paga a conta para não perder o crédito.

8- O boêmio não se embriaga. Tira mais da bebida do que a bebida do boêmio.

9- O boêmio bebe por prazer e come por obrigação.

10- O boêmio é versado em muitos assuntos, mas não consegue falar sobre a vida alheia.

sábado, 16 de maio de 2009

Gloria Gaynor
Por Valdir Appel

Não lembro bem o ano. O dia e o mês sim: 22 de novembro, quarta. Tá no ingresso.
Em São Paulo, no apartamento do meu compadre Lourenço, abri o caderno B do Estadão: Gloria Gaynor no Olympia.
“E aí Lourenço, vamos ver a black Gloria?”
“Não conheço! Quem é?”
Não disse. Afinal, quem não conhece a rainha da disco music não deve ser muito ligado em música discoteque.
Pedi apenas que me levasse ao Olympia e me buscasse depois.
Comprei ingresso naquelas mesas coletivas.
Era o que sobrava.
Seis ocupantes. Seis desconhecidos. Seis apaixonados pela negra Gloria.
Cinco. Ver-se-ia depois.
Não tenho a mínima idéia de quem fez o pré-espetáculo de cantora.
Impaciente aguardei o início do show. Os vizinhos nem se falavam.
Esperavam.
Como eu.
E ela surgiu soberba. Invadiu o palco. O público.
Cantei junto, dancei o que não sei, me emocionei.
Gloria. Gloriosa, inteira, vozeirão atravessando o peito.
Estremecendo a casa de espetáculos.
Ao meu lado uma jovem senhora balançava o esqueleto sem pudor, em todas as músicas contagiantes da black.
O marido, sizudo, semblante fechado, contrariado, não movia um músculo.
Braços cruzados, não vendo hora de o show acabar.
Deve ter ido na marra.

sexta-feira, 15 de maio de 2009